Olá.
Dezembro, quase Natal, todos em casa. Quase.
De hoje, dia 4, até o Natal, dia 25, restam três semanas e duas sextas. Pouco.
Minha menor dúvida – falta espaço para as maiores, é se peço algum presente. Sério.
Só queria um forte abraço. Impossível.
Hoje é sexta-feira. Amém.
Entre uma página, várias lembranças, um gole e um bj, boa leitura e bom fim de semana.
A TRAGÉDIA DO CANGURU
– Você quer comprar um número de uma rifa?
– Rifa? Em benefício do quê?
– Para ajudar em um relacionamento que está na iminência de se transformar em tragédia.
– Tragédia? Que tragédia? Rifa do quê?
– De um canguru…
– Só o que me faltava. Tragédia… canguru… E lá você tem um canguru?
– Não tenho o canguru, ainda.
– E como você pode rifar o que não tem?
– Vendo os números, arrecado o dinheiro, compro o canguru, sorteio o canguru, entrego o canguru. No meio tempo, evito uma tragédia.
– Quantos números são, essa sua rifa?
– Tantos quanto necessário. Quantos você vai querer?
– Sei lá… Quanto custa o número?
– Ainda não sei. Escolha seus números da sorte, me diga quanto você quer pagar, abra uma lista com seu nome e telefone e eu começo a evitar a tragédia.
– O que você sabe sobre cangurus?
– Haruki Murakami escreveu A Perfect Day for Kangaroo. Acho que só tem em japonês. A história gira ao redor de um canguru bebê.
– E você leu este livro?
– Não, não li.
– E o que ele tem a ver com a rifa?
– A presença de um canguru.
– E você sabe onde comprar um canguru?
– Na Austrália.
– Estou achando você engraçado. Meu nome é Júlia.
– Sou interessante, é diferente de engraçado. Meu nome é Pedro, muito prazer.
Poucos dias depois, no primeiro encontro dos colegas de vestibular, entre risos, fatias de pizza, confidências e justificativas para as carreiras escolhidas, Júlia chegou ao inevitável assunto da rifa:
– Afinal, que história é aquela do canguru?
– Em 1Q84, outro livro do Murakami, tem um personagem, o Tengo, que afirma: “Para o autor, a obra é tudo. Não é preciso ficar acrescentando explicações.” A rifa é minha obra!
– Este outro livro, pelo menos, você leu?
– Hum-hum, três volumes.
– Sim, mas e a tragédia?
– Tragédia seria você desaparecer da minha vista e este papo nunca acontecer. Já ganhei meu canguru. – Concluiu Pedro, sorrindo de uma forma interessante.
Julia achou engraçado.
Vitor Bertini
Da série “compartilhar é quase amor”: