Olá.
Hoje é sexta-feira, 13. Vocês vão entender.
Entre uma página, um sorriso, um gole e um bj, boa leitura e bom fim de semana.
O CAVALO PRETO
Tudo começou com este enorme cavalo preto caído em meu caminho, com aqueles homens indo embora e com estas mulheres, todas de saias brancas, chegando cada vez mais perto.
Nada sei de cavalos. Não reconheço os homens que carregam porretes nem estas mulheres que, puxando seus cabelos, gritam e choram.
O desagradável das ruas não me diz respeito. Quero ir embora, acelerar o passo, fugir daqui. Respiro e, assustado, hesito.
Parado, todos me olham. No olhar das mulheres, a dor de mães que perderam filhos; no olhar dos homens, a banalidade do mal. Nos olhos do cavalo preto, o horror.
Sinto uma angústia infinita.
O cavalo sua, arfa e sangra. Seu pescoço brilha e suas patas, em câmera lenta, coiceiam o ar; sua cabeçorra meneia e só descansa quando as mulheres, ainda chorando, com seus vestidos brancos, deitam sobre seu corpo. Nos terríveis olhos do cavalo, meu reflexo.
Meu coração dispara; ofegante, minha boca seca.
Os vestidos brancos ganham manchas vermelhas e os porretes, indefinidas formas de dor, parecem apontar para mim. Suo como o cavalo. Minhas pernas, imóveis, contraem-se em espasmos nervosos.
As mãos crispadas e sujas de sangue das mulheres que arrancam cabelos apontam em minha direção; os homens violentos aguardam meu movimento e o cavalo preto, como em uma Guernica bombardeada, assume o centro do meu mundo.
O silêncio sobre a Terra e a escuridão do meio-dia é que me acompanham nos insensíveis passos em direção àqueles olhos. De joelhos, me abraço no cavalo preto. Quando ele morre, estou só.
Ofegante, assustado, acordado; ainda deitado, espero o dia clarear.
Vitor Bertini