ONDE O SOL SE PÕE
Novo Oeste é minha cidade natal. Novo Oeste fica a oeste de algum lugar, é quente o tempo todo e tinha o melhor muro do mundo para sentar em cima, pensar na vida e comer bergamotas.
Eu não sabia onde ficava o oeste, pouco sabia da vida, mas sabia muito bem onde ficava aquele muro alto, largo e que, à tardinha, recebia uma sombra perfeita. Sentado ali eu via tudo: a prefeitura, a igreja, o clube, a delegacia e, espichando um pouco o pescoço, a rodoviária e a bergamoteira.
Certo fim de tarde, inclinando o corpo para apanhar a mais amarela das bergamotas, vi Iracyna fechando a rodoviária. Sempre de jeans, sapato baixo e blusa preta, Iracyna, gerente da rodoviária, era uma mulher discreta e de olhar severo. Sorriso mesmo, só vendendo passagens.
Foi assim, na rua já deserta, empoleirado no muro com uma bergamota na mão, que vi Iracyna se aproximar acompanhando uma moça que acabara de chegar à cidade.
– Para que lado será que fica o oeste? – perguntou a visitante levantando o cabelo e insinuando a nuca.
Iracyna parou, acarinhou o rosto da forasteira, encostou-a no muro, deu-lhe um beijo na boca e, colocando a mão por baixo de sua blusa, afirmou:
– O oeste é onde o sol se põe e para onde corre minha mão.
Nunca mais esqueci onde fica o oeste.
Vitor Bertini