Novo Oeste, 22 de abril de 2022.
Na calmaria que denuncia a tempestade, goles e beijos para quem lê.
Bom fim de semana.
REGANDO A VIDA
Na janela do meu estúdio, quem diria, mora uma flor; discreta e curiosa, me assiste trabalhar.
Ontem, triste de dar dó, olhando sem ver, notei seu galho seco e comecei a pensar.
Abri a janela, e o vento, velho rabugento, espalhou as folhas pelo chão.
Reparei no vaso, pelo acaso, a vida teimosa; na terra dura, rachada, o broto das frases nascendo:
– E Deus fez as flores, ainda sem nomes, no terceiro dia da criação.
– Essa é uma begônia. Valente. Tadinha, seca de dar pena. Parece a gente.
Constrangido, molhei a plantinha e escrevi a palavra dor. Fui embora. Fui pra casa, fui deitar.
Hoje, alegre de só ver, trouxe um pequeno regador. A vida, na janela, tem o cor-de-rosa da minha flor.
Vitor Bertini
TEXTOS RESERVADOS*
LM era meu amigo, jornalista o tempo todo e gostava de contar histórias.
Gostava de contar que no seu tempo, no tempo dos jornais, fumava-se nas redações, as máquinas de escrever faziam barulho, os paletós ficavam nas cadeiras, trabalhava-se até tarde da noite, os fotógrafos estavam sempre indisponíveis e o café era ruim. Lá, dizia, sentia-se em casa.
– LM, jornalista, Vitor Bertini - *reservado no sentido culinário do termo
.